quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A cerveja e o assassinato do feminino, por Berenice Bento

Li essa entrevista e achei interessantíssimo. Sim, eu sou uma fiel consumidora de cerveja, mas já acreditava que os comerciais são verdadeiros criadores de esteriótipos sobre as mulheres, uma realidade que deve ser mudada. 

A cerveja e o assassinato do feminino, por Berenice Bento

Com raras exceções, a estrutura dos comerciais não muda: a mulher quase desnuda, a cerveja gelada e o homem ávido de sede.

[Folha de S. Paulo] Há muitas formas de se assassinar uma mulher: revólveres, facas, espancamentos, cárcere privado, torturas contínuas. Mesmo com um ativismo feminista que tem pautado a violência contra as mulheres como uma das piores mazelas nacionais, a estrutura hierarquizada das relações entre os gêneros resiste, revelando-nos que há múltiplas fontes que alimentam o ódio ao feminino.
Como não ficar estarrecida com a reiterada violência contra as mulheres nos comerciais de cerveja? Com raras exceções, a estrutura dos comerciais não muda: a mulher quase desnuda, a cerveja gelada e o homem ávido de sede. As campanhas são direcionadas para o homem, aquele que pode comprar.
Alguns exemplos: uma mulher faz uma pequena dissertação sobre a cerveja para uma audiência masculina, incrédula de sua inteligência. Logo o mal-entendido se desfaz: claro, uma mulher não poderia saber tantas coisas se tivesse como mentor um homem; a mulher é engarrafada, transformada em cerveja; um mestre obsceno infantiliza e comete assédio moral contra uma discípula; ela é a BOA. Quem? O quê? A mulher ou a cerveja?
Todos os comerciais são de cervejas diferentes e estão sendo exibidas simultaneamente. Nesses comerciais não há metáforas. A mulher não é “como se fosse a cerveja”: é a cerveja. Está ali para ser consumida silenciosamente, passivamente, sem esboçar reação, pelo homem. Tão dispensável que pode, inclusive, ser substituída por uma boneca sirigaita de plástico, para o júbilo de jovens rapazes que estão ansiosos pela aventura do verão.
Se já criminalizamos alguns discursos porque são violentos, não é possível continuarmos passivamente consumindo discursos misóginos a cada dia, como se o mundo da televisão não estivesse ligado ao mundo real, como se as violências ali transmitidas tivessem fim no click do controle remoto.
Embora a matéria-prima para elaboração desses comerciais esteja nas próprias relações sociais, nas performances ali apresentadas há uma potencialização da violência. Não há uma disjunção radical entre violência simbólica e física. Há processos de retroalimentação.
A força da lei já determinou que os insultos racistas conferem ao emissor a qualidade de racista. Também caminhamos para a criminalização da homofobia em suas múltiplas manifestações, inclusive dos insultos. Por que, então, devemos continuar repetidas vezes ao longo do dia a escutar “piadas” misóginas, alimentando a crença na superioridade masculina sem uma punição aos agressores?
Sabemos da força da palavra para produzir o que nomeia, sabemos que uma piada homofóbica, racista, está amarrada a um conjunto de permissões sociais e culturais que autoriza o piadista a transformar o outro em motivo de seu riso. Agora, é incalculável o estrago que imagens reiteradas de mulheres quase desnudas, que não falam uma frase inteligente, que estão ali para servir a sede masculina, invisibilizadas em duas tragadas, provocam na luta pelo fim da violência contra as mulheres.
Da mesma forma que o “piadista” racista e/ou homofóbico acha que tudo não passa de “brincadeira”, o marqueteiro misógino supõe que sua “obra-prima” apenas retrata uma verdade aceita por todos, inclusive por mulheres: elas existem para servir aos homens. E como é uma verdade aceita por todos, por que não brincar com ela? Ou seja, nessa lógica, ele não estaria fazendo nada mais do que reafirmar algo posto. Será? Não é possível que defendam aquela sucessão de imagens violentas como “brincadeiras”.
Essa ingenuidade não cabe a alguém que sabe a força da imagem para criar desejos.
O que pensam os formuladores dos comerciais? Que tipo de mulheres habita seus imaginários? Por que há essa obsessão pelos corpos femininos? Será que eles ainda pensam que as mulheres não consomem cerveja?
Não se trata de negar a mulher-consumível, coisificada, pela mulher consumidora, mas de apontar os limites de uma estrutura de comercial que peca inclusive em termos mercadológicos.
Tal qual o assassino que matou sua esposa acreditando que sua masculinidade está ligada necessariamente à subordinação feminina, a cada gole de mulher, o homem sente-se, como em um ritual, mais homem. Conforme ele a engole, ela desaparece de cena para surgir a imagem de um homem satisfeito, feliz; afinal, matou sua sede. É um massacre simbólico ao feminino. É uma violência que alimenta e se alimenta da violência presente no cotidiano contra as mulheres.

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BERENICE BENTO é doutora em sociologia, pesquisadora associada do Departamento de Sociologia da UnB e autora do livro “A Reinvenção do Corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual”.


Artigo originalmente publicado pela Folha de S. Paulo – 03/01/2007
Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2007/01/04/a-cerveja-e-o-assassinato-do-feminino-por-berenice-bento/>. Acesso em: 28 nov. 2011.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Escolas Geográficas

Finalmente, resolvi colocar uma resenha realmente geográfica nesse blog.
Essa é uma resenha que eu fiz esse semestre para uma disciplina que eu ainda estou cursando que entre outras coisas, nos mostra as principais caracteristicas e o contexto histórico das matrizes do pensamento geográfico. Ela é muito interessante, pois realmente têm realce nas principais características de cada matriz.


Unidade I: As bases teóricas e epistemológicas da geografia humana; Os Clássicos da Geografia; O movimento de renovação da geografia

Introdução:
Nessa primeira unidade, foram abordadas as matrizes históricas do pensamento geográfico. Assim, os textos oferecem uma base fundamental para o conhecimento geográfico.
Os textos apresentava aos alunos de Geografia Humana 1, os fundamentos de cada matriz, apresentando também suas principais características, seu contexto histórico e os principais autores que contribuíram para a consolidação de cada matriz, formando assim uma base fundamental.

Geografia Tradicional, ou Geografia Clássica
A geografia Clássica teve suas principais manifestações na matriz francesa e na matriz alemã, as quais fundaram dois conceitos importantes da geografia: o determinismo ambiental e o possibilismo ambiental, na segunda metade do século XIX.
Na matriz alemã há um destaque de dois autores fundamentais para a consolidação da Geografia: Carl Ritter e Friedrich Ratzel. Em sua teoria, Ratzel defende que o progresso de uma civilização depende da utilização dos recursos naturais para a reprodução dos elementos culturais. O meio ambiente por tanto, influenciaria no oferecimento dos recursos naturais de determinada região. As condições naturais, segundo ele, em especial a climática determinariam a distribuição espacial da população e sua imigração ou emigração. É de autoria de Ratzel também a teoria de Estado Vital, a qual diz que o Estado deve ter controle e expandir o território necessário para um povo, justificando assim a expansão territorial.
Deve-se considerar o contexto histórico pelo qual a Alemanha se encontrava, pois o Estado alemão ainda se encontrava fragmentado e não estava inserido no sistema capitalista, enquanto outros países como a França e a Inglaterra de se encontravam em ampla expansão.
A França por sua vez, se encontrava em um momento de plena expansão do capitalismo, e com o um Estado completamente consolidado. Surge então o Possibilismo ambiental, defendido pela matriz francesa, que critica rigidamente o determinismo ambiental e o conceito de espaço vital. Ela defende que a natureza fornece possibilidades ao homem. Vidal de La Blache é o principal pensador dessa corrente, ele propôs também a uma análise do que ele denominou Gênero de Vida, que propõe elementos da singularidade de cada região.
Outro importante conceito que a matriz francesa denominou foi a de Região, que passou a ser objeto de análise da Geografia.
No Brasil a Geografia Clássica teve seu auge dos anos 50 aos anos 70. Ruy Moreira nos ajuda a entender como essa geografia se desenvolveu aqui.
Teve uma influência incial da matriz francesa e alemã e posteriormente uma influência da matriz americana com Sauer, Hetter e Hartshorne.

Nova Geografia: O horizonte lógico-formal na geografia moderna
A Nova Geografia, também conhecida como Geografia Quantitativa, surge em um período de pós-guerra, ou seja, um período de grandes tensões nacionais, crises econômicas e grandes rupturas ideológicas. Há também um grande avanço industrial, com uma nova perspectiva do trabalho.
Diante desse contexto, a Nova Geografia diz que a Geografia Clássica não consegue mais explicar com os conceitos de determinismo e positivismo os problemas sociais existentes.
A partir de então a Nova Geografia, que surge aproximadamente em 1950, defende um rompimento com a matriz clássica, defendendo a sistematização da ciência geográfica.
Há então uma influência um do positivismo lógico, também conhecido como filosofia analítica. Ele teve influência primeira sobre a matemática, e física e logo em seguida na economia, biologia, sociologia, psicologia. Na geografia essa influência foi um pouco mais tardia.
A filosofia analítica se caracteriza pela recusa da metafísica. Russell foi quem aperfeiçoou esse método, que afirma que as verdadeiras significações do discurso científico vêm através da lógica. Essa corrente levou a uma imediata valorização das ciências matemáticas, e as outras disciplinas deveriam através da matemática buscar uma coerência lógica. Houve também uma unificação do método científico, que se remete a princípios lógicos fundamentados na matemática.
Schaefer foi uns os primeiros a se integrar a essa nova corrente, e construiu grandes críticas a Geografia Clássica, essa crítica chegou até ser conhecida como “revolução quantitativa”. Outros autores na década de cinqüenta como Veber, Reilly e Thünem começaram a direcionar seus trabalhos nessa corrente.
Os textos da Nova Geografia começam todos por uma crítica, a Geografia Clássica. Eles afirmam que ao se ter uma concepção de fenômenos únicos impede que se caminhe a uma explicação teórica. A Geografia Clássica para eles acaba por ser uma descrição dos acontecimentos, sem que haja uma explicação desses fenômenos. Segundo vários autores dessa nova corrente a antiga geografia afasta a geografia das outras ciências e afasta dela uma consolidação como ciência.
Segundo David Harvey, os possíveis gêneros de explicação na geografia são: descrição cognitiva, análise morfométrica, análise causa-efeito, explicação temporal, análise funcional e ecológica, e analise sistemática. Para ele a análise sistemática é a forma mais poderosa e apropriada à explicação.
Essa visão sistêmica mudou a visão de região na geografia, pois ela não foi mais vista somente como uma unidade territorial e sim como uma classe espacial que faz parte de um sistema hierarquizado.
A Nova Geografia também diz ter uma visão neutra, ou seja, não utiliza de explicações políticas para a análise de seus fatos.

Geografia Crítica: O horizonte da crítica radical
A partir da década de 60 o progresso industrial começou a perder força e a Nova Geografia começa a mostrar suas limitações. Surge então uma nova matriz do pensamento geográfico, a Geografia Crítica, também conhecida como Geografia Marxista.
Ela se posiciona contra a Geografia Clássica e a Nova Geografia ao mesmo tempo, e busca fundar uma nova ciência baseada no método histórico dialético, que devia estar de acordo com as bases de uma nova sociedade, visando um saber a serviço de uma transformação social e não de uma visão que buscava manter as estruturas sociais existentes.
Critica que os instrumentos quantitativos apenas abordariam, de uma maneira diferente as questões da Geografia Clássica. Para essa nova corrente, a visão quantitativa apenas tenta fazer a geografia avançar somente em uma concepção formal, sem uma análise explicativa, assim como a Geografia Clássica.
Segundo eles também, a dita objetividade, na verdade traduzia a um ponto de vista da classe dominante. A ciência analítica para os críticos é uma ciência vinda de uma sociedade desigual, a qual uma pequena parte da população tem o poder sobre o conhecimento cientifico. Sendo assim o discurso da objetividade é constituído sob aparência tendo como principal objetivo justificar e reproduzir “cientificamente” as estruturas sociais e de poder já existentes.
A Geografia Tradicional por sua vez era vista por esta corrente como uma ciência que pretendia afirmar uma natureza imutável das relações do homem e a Terra. Ela assim tentava construir uma ordem ideal sem nenhuma relação com as matérias e histórias sociais.
O materialismo histórico e dialético, que é a base do método analítico marxista, operacionaliza e organiza uma estrutura racional de pensamento do real. Ele busca primeiro uma busca por elementos comuns que estruturam o real. Ele permite então uma percepção além da fenomenologia, conseguindo observar verdades essenciais escondidas atrás das aparências. Interpreta, portanto uma realidade última, a qual é revelada através da razão, que reconhece, no movimento caótico da sociedade, os principais fatores de sua organização e desenvolvimento.
O marxismo afirma que um sujeito do conhecimento, determinado historicamente e contextualizado socialmente, é compreendido pela ciência, a partir das categorias que o envolvem: a produção, a reprodução, o consumo, a troca, o Estado, o mercado, as propriedades e as classes sociais. A partir do raciocínio delas há um raciocínio que se desenvolver em uma cadeia de determinações sobre elas.
Yves Lacoste em 1976 com o lançamento da revista Hérodote se transforma em um símbolo do inicio da Geografia Crítica na França.
A matriz da Geografia Crítica tem em grande parte, a aceitação do marxismo como base do estabelecimento cientifico. Ela propõe um modelo de análise que busca ser rigorosamente científico e revolucionário. Não propõe uma falsa neutralidade diante das questões políticas e sociais.
Essa corrente tende a analisar o espaço a partir das relações da sociedade, dos modos de produção, da economia entre outros fatores. Ela tende assim a ir para o conceito de espaço social, a fim de explicar a dinâmica social inscrita em um espaço que é reprodutor de desigualdades e ao mesmo tempo de condição de sua superação.

Geografia Humanista: O horizonte humanista
Esta corrente surge em um período da ciência contemporânea, que busca referências variadas sem excluir qualquer caminho, pois a exclusão pode acabar por limitar a análise.
O espaço é considerado como resultado de um processo histórico, e a partir daí uma dimensão real e física, ou como uma construção simbólica que associa sentido e idéias.
Nessa matriz do pensamento geográfico há um retorno as raízes clássicas, que valoriza o pensamento de região e a sua unicidade. Defende a valorização dos costumes e hábitos marcados no tempo e destacam a importância da cultura, que é freqüentemente esquecida na ótica racionalista.
Há também uma visão antropocêntrica do saber e derivado disso há uma subjetividade do saber. Outra característica fundamenta da Geografia Humanista é uma posição epistemológica holística. Há uma rejeição ao método analítico, acusado de perder a riqueza dos detalhes, da unicidade, limitando-se a analise das partes, perdendo a riqueza do todo. O homem é considerado como produtor de cultura- no sentido de atribuição de valor as coisas que o cercam.
O método lógico e analítico para o humanismo trabalha com abstrações artificiais. O método utilizado nessa matriz é então o hermenêutico.
Portanto, a tarefa do geógrafo é interpretar o jogo de analogias, de representações, de valores e identidades que figuram nesse espaço.
O espaço nessa corrente e visto como o espaço vivido, vindo de uma matriz francesa, principalmente de Vidal de La Blache. Frémont retorna a essa concepção, que vê o espaço como uma dimensão da experiência humana. Nessa perspectiva o sentimento de proximidade do pesquisador com a região é fundamental.
Para Frémont cada espaço significa uma combinação de diversos fatores os quais interagem e integram à paisagem local e regional.
Outros autores Yi-Fu-Tuan e Relph que consolidam os conceitos de fenomenologia a geografia e os manifestam com clareza. Para este último, a fenomenologia é fundamental para a consolidação do método.
Segundo ele também há quantas geografias quanto às percepções de mundo, porém existe uma visão mais ou menos geral ou consensual nestas percepções. Portanto é possível o estabelecimento de uma geografia geral.

Conclusão / Avaliação Crítica da Unidade
Na Unidade I é possível conhecer as matrizes do pensamento geográfico a partir do entendimento não só de suas características, mas também do contexto histórico o qual esses pensamentos foram desenvolvidos, os autores que foram fundamentais para consolidar tais pensamentos.
Foi possível então conhecer a epistemologia geográfica e assim, fazer uma análise dessas correntes. É fundamental aos estudantes de geografia o entendimento destas matrizes, pois são elas que vão dá base a um futuro conhecimento geográfico e como esse conhecimento influenciou e influência a geografia.
É importante notar que as matrizes do pensamento geográfico aparecem sempre tentando desconstruir a outra, o que pode ser um problema, pois há a recusa de todo o conhecimento que poderia ser aproveitado de alguma maneira na outra matriz.
Referências Bibliográficas

GOMES, Paulo Cesar da Costa. O horizonte da crítica radical. In: Geografia e Modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp.274-303.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. O horizonte lógico-formal na geografia moderna. In: Geografia e Modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp.249-273.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. O horizonte Humanista. In: Geografia e Modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp.304-334.
MOREIRA, Ruy. As transformações da Geografia Clássica. In: MOREIRA, R..O pensamento geográfico brasileiro. São Paulo: Contexto, 2009. pp.11-46.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A aula que não aconteceu

Ontem na aula, a professora Karla França comentou algo que me intrigou e logo que cheguei em casa procurei me informar sobre essa carta. A professora Ana Fani fez uma carta que esclarece como acontece a entrada da polícia no campus da USP.
É interessante para desconstruir conceitos que estão sendo criados pela mídia e tidos como verdadeiro por muitos, que não possuem a informação de como está acontecendo esse "policiamento" no campus.


Professora Ana Fani e a aula que não aconteceu

por Ana Fani Alessandri Carlos, por sugestão do professor Ricardo Musse

Caros estudantes
Foi com grande indignação e imensa tristeza que vi na última quinta  feira a PM invadir o espaço da universidade e, ao fazê-lo, impor sua violenta racionalidade à vida cotidiana do campus. As “forças da ordem” instauraram o caos, usurpando a liberdade necessária e indispensável à realização de nosso trabalho, com o discurso da manutenção da mesma “ordem” que ele subverteu.
Não é difícil reduzir sua ação ao combate do tráfico de drogas sob o argumento de que o tratamento ao usuário de droga pego em flagrante deve ser o mesmo para todos os cidadãos sejam eles estudantes ou não, estejam eles no campus universitário ou fora dele.
A questão está longe de se resumir a esta ação/atitude. A situação em que nos encontramos é muito mais complexa. Trata-se do modo como o uso da força é justificado pelas autoridades. Assim a presença impositiva de uma fileira de motos, um despropositado número de PMs no
estacionamento do prédio da História/Geografia, para autuar três estudantes (antecedidos por blitz constrangedoras e cada vez mais freqüentes aos estudantes da USP) com seus gadgets, somados á bombas de “efeito moral” instauram o caos e impediram que a atividade fim da
universidade se realizasse. Além do que acabaram gerando mais violência e, com ela, um impasse, cujo desfecho certamente recaíra – como de hábito, pela punição aos mais fracos.
Consequentemente, trata-se de buscar a real origem de todo este caos que invade a vida cotidiana do campus subtraindo-lhe o sentido, e não poderia ser outra senão a lógica que orienta as atitudes da atual gestão universitária. Tal atitude vem revelando um desconhecimento do
papel e sentido histórico desta instituição pública, preocupada que esta em atender as exigências do mercado – no discurso tratado como aproximação entre universidade-sociedade (seja lá o que isto quer dizer!)
Os crimes de todos os tipos e assassinatos não podem e devem ser aceitos passivamente, nem no campus, nem fora dele, mas suas origens parecem não estar suficientemente claros, o que parece certo, todavia que com violência e negação de direitos civis estaremos cada vez mais distante da busca de possíveis e desejadas soluções.
Certamente, trata-se de formar nossos estudantes na busca da compreensão do fato de que o consumo inocente de um baseado reproduz o circuito do narcotráfico fundado numa violência ainda maior do que a da PM, e cuja existência impede o mais simples convívio social nas
áreas de sua atuação direta, bem como, no plano da sociedade a realização de um projeto que busque a realização do direto à cidade, a realização da cidadania plena e a subversão da situação de desigualdade que funda a sociedade brasileira.
Certamente os estudantes envolvidos nesta batalha devem ser totalmente favoráveis à superação desta condição de desigualdade que inclusive impede que a maioria daqueles que se encontram na mesma faixa etária tenham acesso à mesma universidade pela qual estamos todos engajados em sua defesa.
Abrir os portões da USP para a PM, vem revelando – em curto espaço de tempo – esta foi uma saída é, no mínimo, irresponsável.
A gestão da USP, ao abrir mão de suas atribuições, vem de forma consistente destituindo a universidade de seus conteúdos e sentido.
Para citar um caso dos mais graves, lembramos, aqui, os programas de pós-graduação deixados – pesquisadores e estudantes, com suas pesquisas – à mercê das instituições de fomento que vem impondo, no lugar do debate acadêmico, a competição entre programas e pesquisadores em busca de linhas em seus currículos lattes.
Competição esta, agora exacerbada pela nova lógica da carreira docente que faz com que o vizinho de sua porta se torne o inimigo a ser combatido por pontos pela progressão na carreira.
Na busca por estes objetivos, os prazos se tronam cada vez mais apertados esvaziando o ato de conhecer como ato de habitar o tempo lento da reflexão, agora, invadida pela quantificação.
Com isso é nosso trabalho que é completamente destituído de sentido, e o conhecimento produzido redunda em mera banalidade ou meras constatações. Agora, na mesma lógica que terceiriza a pós-graduação, a Universidade terceiriza mais uma das atividades que permite a
realização de seus objetivos – a segurança do/no campus.
A cada passo as sucessivas gestões parecem perder pouco a pouco sua legitimidade para levar a universidade para o futuro, prolongando uma história de conquistas tanto no plano do conhecimento da realidade brasileira – agora comprometido pelo tempo veloz com que precisamos produzir textos,artigos, orientações, patentes, etc- quanto no cenário político brasileiro em sua luta contra a ditadura.
Que projeto vislumbrar? Que futuro podemos construir? Sem dúvida o coletivo desta grande universidade precisa apontar novas possibilidades e caminhos mirando o futuro, mas aprendendo com nossa  história…..
Professora Dra. Ana Fani Alessandri Carlos
Departamento de Geografia da FFLCH/USP

Primeira Resenha

A minha primeira resenha a ser postada não é uma resenha especificamente da geografia, mas claro que como tudo está interligado, vou colocar um dos meus primeiros trabalhos quando eu engressei na universidade.
A resenha é sobre o texto do Habermas sobre "Uma outra via para sair da filosofia do sujeito- razão comunicativa VS. Razão centrada no sujeito"
É uma visão interessante, porém que há suas falhas, ai está a resenha sobre esse texto.



Resenha: "Uma outra via para sair da filosofia do sujeito-
 razão comunicativa VS. Razão centrada no sujeito"

            Na teoria de Foucault ele afirma que quando se é proprietário do poder, há que se possuir o saber e aquele que possui o saber é também o dono do poder. Para ele, a sabedoria é uma forma de dominação.
Ele faz também uma "crítica radical à razão" mas ele não se livra das aporias inerentes a esse tipo de procedimento, quer dizer, a crítica à razão é obra da própria razão. Foucault diz que a verdade nas práticas discursivas funciona ao encobrir-se como vontade de verdade, como produtora do poder.
            Habermas diz que houve uma crítica a razão, porém na teoria do poder não há uma saída para essa situação. Para ele Foucault teve uma dificuldade em analisar o saber como produtor de poder num modelo alternativo ao de Heidegger, que é o da história do ser, dos modos de efetivação dos entes em cada época. E então, Foucault não teria sido original.
            Ele continua a crítica a teoria do Foucault, dizendo que ele tenta se elevar a outras pseudociências, com uma objetividade mais rigorosa, porém cai na própria armadinha com um relativismo incapaz de informar sobre os fundamentos de sua teoria.
            Então a subjetividade permite moldar as configurações da cultura moderna, que segundo ele considera o homem sendo capaz de determinar as leis da natureza e o conhecimento desta faz do homem livre. Os conceitos morais da modernidade estão adequados ao reconhecimento da liberdade subjetiva dos indivíduos.
            Segundo ele a filosofia do sujeito supõe uma imagem de sujeito, que é um sujeito ideal partilhado por todos os seres humanos, a forma ideal orientada pela razão. E a partir do momento em que há a formação de conceito ideal de sujeito há exclusão do outro, a existência de um não sujeito para a auto-afirmação do sujeito.
            Então ele menciona a racionalidade comunicativa, que é a capacidade dos sujeitos de interagirem em grupo, mediando seus interesses como iguais, no qual as ações são coordenadas pelo diálogo sincero, no qual todos são ouvidos. Ela parte do principio também de que a racionalidade comunicativa é um aspecto dos seres humanos e que sem a comunicação não haveria humanidade.
            Ele afirma que “a colonização do mundo da vida pelo sistema” tende a minimizar a comunicação, o que porém não deve levar à radicalização que produz a não diferenciação entre mundo da vida e sistema. A modernidade criou condições para manter a vida social diferenciada do sistema (poder político e econômico). A complexidade do sistema não significa o esmorecimento das formas modernas de vida, e de suas conquistas. Sistema e mundo da vida são estruturalmente diferentes
            A partir da crítica a filosofia do sujeito ele propõe uma alternativa, a ação comunicativa é fundada em um modelo de ação orientada no entendimento e então o individuo passa a não se ver mais como sujeito conhecedor das entidades do mundo. Isso ocorre porque a partir da razão comunicativa há a necessidade de um entendimento recíproco , pois caso não haja uma interação entre ambas as partes não é possível a comunicação.
A teoria da ação comunicativa afirma que o entendimento lingüístico é capaz de coordenar a ação social nas sociedades modernas. O entendimento lingüístico então implica uma ação subseqüente, que buscará a realização das metas dos participantes.
            O sujeito que interage a partir da linguagem, tem a possibilidade de uma relação diferente daquela na qual ele é conhecedor de todas as entidades do mundo, e passa a se enxergar como parte do mundo, como objeto dele.
            Na filosofia do sujeito, o Foucault afirma que há um esforço de transformar reflexivamente o ser-em-si em ser-para-si. Segundo Habermas essa auto tematização se faz desnecessária do ponto de vista do entendimento, pois a partir do momento em que o falante e o ouvinte passam a se entender frontalmente eles movem-se para o interior da vida em comum. Quando se comunica sobre determinado tema há um contexto e a partir desse contexto há vários recursos para o seu entendimento.
            Ele defende também que como cada pessoa tem experiências diferentes ao decorrer da vida, cada pessoa se torna única e insubstituível do ponto de vista da ação comunicativa, pois ao se comunicar com cada pessoa terá o conhecimento de diferentes horizontes. Então ninguém pode ter o conhecimento absoluto, pois cada um teve experiências diferentes, por isso a necessidade da comunicação.
            Sendo assim, na ação comunicativa não se pode excluir ninguém, pois cada um teve experiências diferentes no decorrer da vida.
            Vejo algumas falhas na teoria da comunicação, pois temos que considerar também que há pessoas que utilizam da comunicação para a persuasão das outras, como por exemplo, os psicopatas, os “charlatões” entre outras pessoas que utilizando da linguagem, se beneficiam prejudicando outras pessoas.
            Há que levar em consideração também que nem todas as pessoas estão dispostas a conhecer novos horizontes, o que significa que elas facilmente excluiriam outras pessoas de seu convívio e também não havendo a comunicação.
            Porém achei interessante a proposta da comunicação, pois partindo do ponto de vista dela poderíamos melhorar as relações humanas, de maneira a interagir com diferentes experiências e fazer disso uma maneira de aperfeiçoamento das relações. 

Transporte brasiliense

Cada dia mais o transito na capital federal está mais caótico.
Nós, brasilienses, não temos nenhuma alternativa que não seja o transporte particular. 
Fomos condicionados a uma cultura automobilística e toda uma verdadeira máfia que move esse mercado.
Os governantes pouco ou nada se importam da precariedade do transporte público.
Na verdade o transporte público no Distrito Federal, de público não tem nada. Somos reféns de meia dúzia de empresários tem o absoluto controle desse transporte e pouco interessados estão em melhorar a qualidade dele.
O governo distrital, seja lá de qual partido for, não consegue enfrentar ou não tem interesse algum em fazê-lo.
Os funcionários têm salários de fome, convivem com a insegurança de assaltos e dificilmente a polícia é capaz de fornecer tal violência. E claro, em caso de assaltos, quem arca com o prejuízo nunca são os empresários, são os funcionários.
Como se já não fosse suficiente termos que lidar todos os dias com engarrafamentos quilométricos, não temos alternativas viáveis para melhorar tal situação.
Sim, essa é a situação da cidade planejada e idealizada. É com tristeza e indignação que eu digo que sim, Brasília é uma cidade projetada pra ricos. Nós, pertencentes à classe popular movimentamos a capital, porém não somos vistos e ouvidos pelos governantes.
E esse é só um dos muitos problemas enfrentados por nós, e que não mostram no Jornal Nacional, não da IBOP...
Infelizmente, não vejo ainda outra solução que não manifestações para que a população se faça ouvir, para que os governantes se lembrem que nós estamos aqui
Só assim teremos o direito constitucional de ir e vir, coisa que muitas vezes o governo nos priva e que muitos não se dão conta.
Vamos mostrar para que nós estamos aqui e sim, temos força pra desconstruir isso...
Já foi derrubado um governador, e se preciso será derrubado outro
Estamos esgotados, exaustos e indignados com essa corrupção que se tornou cotidiana, precisamos acabar com essa cultura corrupta que nos rodeiam...
Temos, nós como sociedade, como principais prejudicados a obrigação de desmontar esse sistema de governo corrupto que se faz com naturalidade
Mostrar que não somos cegos nem burros, como eles acreditam.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mas por que?

A muito, venho com vontade de criar um blog.
Muitas vezes procuro resenhas, resumos entre outras informações de determinados textos e não consigo acha-los...
Então, resolvi ao longo do meu curso ir postando em um blog esses textos que podem ser uteis de alguma maneira aos futuros estudantes, que assim como eu, resolverem trilhar por esse caminho maravilhoso que é o da Geografia.
Resolvi criar também por muitas vezes discordar da opinião pública de alguns assuntos, e achar a internet uma maneira importante de se expressar. 
Posicionamentos políticos em redes sociais, a meu ver, muitas vezes não interessam a alguns amigos meus, e não acredito ser o lugar ideal pra esse tipo de discussão, com o blog eu posso me posicionar e somente quem se interessar lerá..
Portanto, o blog será uma maneira de expressão, de sugestões, de informações que eu acredito que possam ser interessantes, e assim poderei também disponibilizar materiais importantes para quem necessita.