terça-feira, 8 de novembro de 2011

Escolas Geográficas

Finalmente, resolvi colocar uma resenha realmente geográfica nesse blog.
Essa é uma resenha que eu fiz esse semestre para uma disciplina que eu ainda estou cursando que entre outras coisas, nos mostra as principais caracteristicas e o contexto histórico das matrizes do pensamento geográfico. Ela é muito interessante, pois realmente têm realce nas principais características de cada matriz.


Unidade I: As bases teóricas e epistemológicas da geografia humana; Os Clássicos da Geografia; O movimento de renovação da geografia

Introdução:
Nessa primeira unidade, foram abordadas as matrizes históricas do pensamento geográfico. Assim, os textos oferecem uma base fundamental para o conhecimento geográfico.
Os textos apresentava aos alunos de Geografia Humana 1, os fundamentos de cada matriz, apresentando também suas principais características, seu contexto histórico e os principais autores que contribuíram para a consolidação de cada matriz, formando assim uma base fundamental.

Geografia Tradicional, ou Geografia Clássica
A geografia Clássica teve suas principais manifestações na matriz francesa e na matriz alemã, as quais fundaram dois conceitos importantes da geografia: o determinismo ambiental e o possibilismo ambiental, na segunda metade do século XIX.
Na matriz alemã há um destaque de dois autores fundamentais para a consolidação da Geografia: Carl Ritter e Friedrich Ratzel. Em sua teoria, Ratzel defende que o progresso de uma civilização depende da utilização dos recursos naturais para a reprodução dos elementos culturais. O meio ambiente por tanto, influenciaria no oferecimento dos recursos naturais de determinada região. As condições naturais, segundo ele, em especial a climática determinariam a distribuição espacial da população e sua imigração ou emigração. É de autoria de Ratzel também a teoria de Estado Vital, a qual diz que o Estado deve ter controle e expandir o território necessário para um povo, justificando assim a expansão territorial.
Deve-se considerar o contexto histórico pelo qual a Alemanha se encontrava, pois o Estado alemão ainda se encontrava fragmentado e não estava inserido no sistema capitalista, enquanto outros países como a França e a Inglaterra de se encontravam em ampla expansão.
A França por sua vez, se encontrava em um momento de plena expansão do capitalismo, e com o um Estado completamente consolidado. Surge então o Possibilismo ambiental, defendido pela matriz francesa, que critica rigidamente o determinismo ambiental e o conceito de espaço vital. Ela defende que a natureza fornece possibilidades ao homem. Vidal de La Blache é o principal pensador dessa corrente, ele propôs também a uma análise do que ele denominou Gênero de Vida, que propõe elementos da singularidade de cada região.
Outro importante conceito que a matriz francesa denominou foi a de Região, que passou a ser objeto de análise da Geografia.
No Brasil a Geografia Clássica teve seu auge dos anos 50 aos anos 70. Ruy Moreira nos ajuda a entender como essa geografia se desenvolveu aqui.
Teve uma influência incial da matriz francesa e alemã e posteriormente uma influência da matriz americana com Sauer, Hetter e Hartshorne.

Nova Geografia: O horizonte lógico-formal na geografia moderna
A Nova Geografia, também conhecida como Geografia Quantitativa, surge em um período de pós-guerra, ou seja, um período de grandes tensões nacionais, crises econômicas e grandes rupturas ideológicas. Há também um grande avanço industrial, com uma nova perspectiva do trabalho.
Diante desse contexto, a Nova Geografia diz que a Geografia Clássica não consegue mais explicar com os conceitos de determinismo e positivismo os problemas sociais existentes.
A partir de então a Nova Geografia, que surge aproximadamente em 1950, defende um rompimento com a matriz clássica, defendendo a sistematização da ciência geográfica.
Há então uma influência um do positivismo lógico, também conhecido como filosofia analítica. Ele teve influência primeira sobre a matemática, e física e logo em seguida na economia, biologia, sociologia, psicologia. Na geografia essa influência foi um pouco mais tardia.
A filosofia analítica se caracteriza pela recusa da metafísica. Russell foi quem aperfeiçoou esse método, que afirma que as verdadeiras significações do discurso científico vêm através da lógica. Essa corrente levou a uma imediata valorização das ciências matemáticas, e as outras disciplinas deveriam através da matemática buscar uma coerência lógica. Houve também uma unificação do método científico, que se remete a princípios lógicos fundamentados na matemática.
Schaefer foi uns os primeiros a se integrar a essa nova corrente, e construiu grandes críticas a Geografia Clássica, essa crítica chegou até ser conhecida como “revolução quantitativa”. Outros autores na década de cinqüenta como Veber, Reilly e Thünem começaram a direcionar seus trabalhos nessa corrente.
Os textos da Nova Geografia começam todos por uma crítica, a Geografia Clássica. Eles afirmam que ao se ter uma concepção de fenômenos únicos impede que se caminhe a uma explicação teórica. A Geografia Clássica para eles acaba por ser uma descrição dos acontecimentos, sem que haja uma explicação desses fenômenos. Segundo vários autores dessa nova corrente a antiga geografia afasta a geografia das outras ciências e afasta dela uma consolidação como ciência.
Segundo David Harvey, os possíveis gêneros de explicação na geografia são: descrição cognitiva, análise morfométrica, análise causa-efeito, explicação temporal, análise funcional e ecológica, e analise sistemática. Para ele a análise sistemática é a forma mais poderosa e apropriada à explicação.
Essa visão sistêmica mudou a visão de região na geografia, pois ela não foi mais vista somente como uma unidade territorial e sim como uma classe espacial que faz parte de um sistema hierarquizado.
A Nova Geografia também diz ter uma visão neutra, ou seja, não utiliza de explicações políticas para a análise de seus fatos.

Geografia Crítica: O horizonte da crítica radical
A partir da década de 60 o progresso industrial começou a perder força e a Nova Geografia começa a mostrar suas limitações. Surge então uma nova matriz do pensamento geográfico, a Geografia Crítica, também conhecida como Geografia Marxista.
Ela se posiciona contra a Geografia Clássica e a Nova Geografia ao mesmo tempo, e busca fundar uma nova ciência baseada no método histórico dialético, que devia estar de acordo com as bases de uma nova sociedade, visando um saber a serviço de uma transformação social e não de uma visão que buscava manter as estruturas sociais existentes.
Critica que os instrumentos quantitativos apenas abordariam, de uma maneira diferente as questões da Geografia Clássica. Para essa nova corrente, a visão quantitativa apenas tenta fazer a geografia avançar somente em uma concepção formal, sem uma análise explicativa, assim como a Geografia Clássica.
Segundo eles também, a dita objetividade, na verdade traduzia a um ponto de vista da classe dominante. A ciência analítica para os críticos é uma ciência vinda de uma sociedade desigual, a qual uma pequena parte da população tem o poder sobre o conhecimento cientifico. Sendo assim o discurso da objetividade é constituído sob aparência tendo como principal objetivo justificar e reproduzir “cientificamente” as estruturas sociais e de poder já existentes.
A Geografia Tradicional por sua vez era vista por esta corrente como uma ciência que pretendia afirmar uma natureza imutável das relações do homem e a Terra. Ela assim tentava construir uma ordem ideal sem nenhuma relação com as matérias e histórias sociais.
O materialismo histórico e dialético, que é a base do método analítico marxista, operacionaliza e organiza uma estrutura racional de pensamento do real. Ele busca primeiro uma busca por elementos comuns que estruturam o real. Ele permite então uma percepção além da fenomenologia, conseguindo observar verdades essenciais escondidas atrás das aparências. Interpreta, portanto uma realidade última, a qual é revelada através da razão, que reconhece, no movimento caótico da sociedade, os principais fatores de sua organização e desenvolvimento.
O marxismo afirma que um sujeito do conhecimento, determinado historicamente e contextualizado socialmente, é compreendido pela ciência, a partir das categorias que o envolvem: a produção, a reprodução, o consumo, a troca, o Estado, o mercado, as propriedades e as classes sociais. A partir do raciocínio delas há um raciocínio que se desenvolver em uma cadeia de determinações sobre elas.
Yves Lacoste em 1976 com o lançamento da revista Hérodote se transforma em um símbolo do inicio da Geografia Crítica na França.
A matriz da Geografia Crítica tem em grande parte, a aceitação do marxismo como base do estabelecimento cientifico. Ela propõe um modelo de análise que busca ser rigorosamente científico e revolucionário. Não propõe uma falsa neutralidade diante das questões políticas e sociais.
Essa corrente tende a analisar o espaço a partir das relações da sociedade, dos modos de produção, da economia entre outros fatores. Ela tende assim a ir para o conceito de espaço social, a fim de explicar a dinâmica social inscrita em um espaço que é reprodutor de desigualdades e ao mesmo tempo de condição de sua superação.

Geografia Humanista: O horizonte humanista
Esta corrente surge em um período da ciência contemporânea, que busca referências variadas sem excluir qualquer caminho, pois a exclusão pode acabar por limitar a análise.
O espaço é considerado como resultado de um processo histórico, e a partir daí uma dimensão real e física, ou como uma construção simbólica que associa sentido e idéias.
Nessa matriz do pensamento geográfico há um retorno as raízes clássicas, que valoriza o pensamento de região e a sua unicidade. Defende a valorização dos costumes e hábitos marcados no tempo e destacam a importância da cultura, que é freqüentemente esquecida na ótica racionalista.
Há também uma visão antropocêntrica do saber e derivado disso há uma subjetividade do saber. Outra característica fundamenta da Geografia Humanista é uma posição epistemológica holística. Há uma rejeição ao método analítico, acusado de perder a riqueza dos detalhes, da unicidade, limitando-se a analise das partes, perdendo a riqueza do todo. O homem é considerado como produtor de cultura- no sentido de atribuição de valor as coisas que o cercam.
O método lógico e analítico para o humanismo trabalha com abstrações artificiais. O método utilizado nessa matriz é então o hermenêutico.
Portanto, a tarefa do geógrafo é interpretar o jogo de analogias, de representações, de valores e identidades que figuram nesse espaço.
O espaço nessa corrente e visto como o espaço vivido, vindo de uma matriz francesa, principalmente de Vidal de La Blache. Frémont retorna a essa concepção, que vê o espaço como uma dimensão da experiência humana. Nessa perspectiva o sentimento de proximidade do pesquisador com a região é fundamental.
Para Frémont cada espaço significa uma combinação de diversos fatores os quais interagem e integram à paisagem local e regional.
Outros autores Yi-Fu-Tuan e Relph que consolidam os conceitos de fenomenologia a geografia e os manifestam com clareza. Para este último, a fenomenologia é fundamental para a consolidação do método.
Segundo ele também há quantas geografias quanto às percepções de mundo, porém existe uma visão mais ou menos geral ou consensual nestas percepções. Portanto é possível o estabelecimento de uma geografia geral.

Conclusão / Avaliação Crítica da Unidade
Na Unidade I é possível conhecer as matrizes do pensamento geográfico a partir do entendimento não só de suas características, mas também do contexto histórico o qual esses pensamentos foram desenvolvidos, os autores que foram fundamentais para consolidar tais pensamentos.
Foi possível então conhecer a epistemologia geográfica e assim, fazer uma análise dessas correntes. É fundamental aos estudantes de geografia o entendimento destas matrizes, pois são elas que vão dá base a um futuro conhecimento geográfico e como esse conhecimento influenciou e influência a geografia.
É importante notar que as matrizes do pensamento geográfico aparecem sempre tentando desconstruir a outra, o que pode ser um problema, pois há a recusa de todo o conhecimento que poderia ser aproveitado de alguma maneira na outra matriz.
Referências Bibliográficas

GOMES, Paulo Cesar da Costa. O horizonte da crítica radical. In: Geografia e Modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp.274-303.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. O horizonte lógico-formal na geografia moderna. In: Geografia e Modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp.249-273.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. O horizonte Humanista. In: Geografia e Modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp.304-334.
MOREIRA, Ruy. As transformações da Geografia Clássica. In: MOREIRA, R..O pensamento geográfico brasileiro. São Paulo: Contexto, 2009. pp.11-46.

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